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Regência verbal e crase

     A regência de um verbo, isto é, sua transitividade e as preposições que exige (se é que exige alguma) é um importante tópico a ser estudado de maneira a utilizarmos a norma-culta de nossa língua. Pode-se dizer o mesmo do uso da crase. Portanto, seguem-se os principais casos destes dois tópicos:

Regência Verbal:

Chegar / Ir: Exigem a preposição "a". Exemplos: Eu vou a Belo Horizonte. Cheguei à fazenda. 

Morar / Residir: Normalmente são acompanhados por "em". Exemplo: Moro em São Paulo.

Namorar: Não exige preposição. Não é correto usar a preposição "com". Exemplo: João namora Maria.

Obedecer / Desobedecer: Exigem a preposição "a". Exemplos: As crianças desobedecem aos pais. O aluno obedeceu prontamente ao professor.

Simpatizar / Antipatizar: Exigem a preposição "com" e não são pronominais, isto é, não podem ser acompanhados pelos pronomes oblíquos "se" e "me". Exemplo: Simpatizo / Antipatizo com Paulo.

Preferir: Exige dois complementos, um acompanhado pela preposição "a" e outro sem nenhuma preposição. Sempre prefere-se alguma coisa a outra. Exemplo: Prefiro escrever a desenhar.

Aspirar: No sentido de cheirar, sorver, é transitivo direto e, portanto, não exige preposição. No sentido de desejar, almejar, é transitivo indireto e exige a preposição "a". Exemplo: A faxineira aspirou o pó no tapete. Ele aspirou o ar da manhã. O cargo a que ela aspirava era muito concorrido. 

Assistir: No sentido de ajudar, não exige preposição. Nos sentidos de ver, presenciar e de pertencer, caber, exige a preposição "a". Exemplos: O médico assistiu o paciente a se levantar. Assistimos a um ótimo jogo no Mineirão. O direito assiste ao presidente. 

Lembrar / Esquecer: Quando forem pronominais, ou seja, estiverem acompanhados dos pronomes oblíquos "me" ou "se", exigem a preposição "de". Quando não forem pronominais, não exigem preposição.  Exemplos: Lembro-me bem do dia em que tudo aconteceu. Esqueci o nome dela. 

Visar: Nos sentidos de ver, mirar e de assinar, dar visto, é transitivo direto e não exige preposição. No sentido de objetivar, almejar, exige a preposição "a". Exemplos: Finalmente visou o que estava procurando. O funcionário visou o passaporte. Ela visava a uma vida melhor.

Querer: No sentido de desejar, não exige preposição. No sentido de ter afeto, amar, exige a preposição "a". Exemplos: O garoto queria muito a bola. A filha queria a seus pais. 

Proceder: No sentido de ter fundamento, não exige preposição. No sentido de originar, dar origem, exige a preposição "de". No sentido de dar início, exige a preposição "a". Exemplos: A argumentação do advogado não procedia. Diversos males procedem da desigualdade social. A polícia procedeu à investigação.

Pagar / Perdoar: Paga-se ou perdoa-se alguma coisa (sem preposição). Paga-se ou perdoa-se a alguém (com a preposição "a"). Exemplos: O padre perdoou os pecados. O cliente pagou ao gerente. 

Informar: Informa-se alguém de alguma coisa ou informa-se a alguém alguma coisa. Exemplos: Informaram João de sua reprovação. Informaram a João sua reprovação.

Implicar: No sentido de causar, acarretar, é usado sem preposição. No sentido envolver, exige dois complementos, um direto e outro indireto com a preposição "em". No sentido de incomodar, exige a preposição "com". Exemplos: O depoimento implicou a prisão do réu. Implicaram o garoto no crime. Ela implicou com seu irmão o dia todo. 

Custar: Não exige preposição com os sentidos de acarretar, exigir e ter valor. No sentido de ser custoso, difícil, exige a preposição "a". Exemplos: A compra custou-lhe todas as suas economias. Carros custam caro. O aluno custou a entender a explicação.

Agradar: Nos sentidos de satisfazer e corresponder à expectativa, é transitivo indireto e exige a preposição "a". No sentido de fazer agrados, carinhos, é transitivo direto e não exige preposição. Como verbo pronominal, no sentido de encantar-se, enamorar-se, pode acompanhar as preposições "com" e "de". Exemplos: O comportamento do filho agradava muito ao pai. Os namorados se agradavam com doces palavras. Agrado-me com atos de solidariedade. O garoto agradou-se da garota imediatamente.


    Uso da crase 

    Vale lembrar que a crase é a fusão da preposição "a" com o atrigo feminino "a" (ou, no plural, "as"). É indicada pelo acento grave (`) acima do "a". O uso da crase deve ocorrer quando:

Um termo regido exigir a preposição "a" e um artigo feminino. Exemplo: Ele vai à (a + a) escola. 

O termo regido estiver substituído por um pronome demonstrativo que começa com "a". Exemplo: Perguntei àquela (a + aquela) moça sobre o assunto.

Se houver uma locução prepositiva, adverbial ou conjuntiva com palavras femininas. Exemplos: Às vezes vou dormir tarde. À medida que corria, ficava cansado. Me exercito à tarde e à noite. 

Na indicação de um horário determinado, específico, geralmente acompanhado da palavra "horas".      Exemplos: Fui acordada às nove horas. O trem partiu às 13 ("horas" está implícito).

Com os verbos "ir" e "chegar", somente se, ao substituí-los na mesma frase pelo verbo "voltar", utilizar-se a preposição "da". Exemplos: Vou à Bahia, - Volto da Bahia. Cheguei a (sem crase) Paris. - Voltei de Paris. 

Com as palavras casa (lar), terra (terreno) e distância, somente se estiverem especificadas ou delimitadas. Exemplos: Cheguei a casa tarde. Cheguei à casa de meu pai tarde. Os pescadores voltaram a terra. Os pescadores voltaram à terra natal. Observei-os a distância. Observei-os à distância de 20 metros

Quando houver elipse das palavras "moda" ou "maneira". Exemplo: Vestia roupas à ("moda" está implícito) Luís XV.  

    Não se usa crase:

Diante de qualquer nome masculino. Exemplo: Contou o segredo a João. 

Com "a" no singular e o nome no plural. Exemplo: Aquilo tudo me cheirava a asneiras.

Diante de qualquer verbo. Exemplo: Ele me levava a fazer loucuras.

Diante de qualquer artigo indefinido (um, uma, uns, umas). Exemplo: Cheguei a um lugar muito estranho. 

Junto a adjuntos adverbiais de meio ou instrumento. Exemplo: Assinei o documento a caneta.

    Pode-se, ou não (casos facultativos), usar-se crase:

Diante de pronome possessivo feminino. Exemplo: Perguntei à / a minha professora sobre o resultado. 

Antes do nome próprio (feminino) de uma pessoa íntima. Exemplo: Pedimos à / a Maria que cuidasse dos animais.

Com a locução "até a", antes de palavra feminina. Exemplo: Fomos até à / a estrado acompanhando-o.

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